segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

O esquecimento azul (parte II)




Francis Anjos estava aturdida ainda. Não era o mundo que conhecia...
Mas sentia uma sensação de alívio, que todo aquele azul à sua volta lhe trazia.
Nessa nova realidade paralela, era tudo 'parecido' como antes, mas ao mesmo tempo, diferente... Claro! Pensou. Aqui não é a Terra!
Seu mentor entrou na sala onde se encontrava e interrompeu-lhe os pensamentos:
_ Olá, Francis e como está hoje? Mais integrada ao sistema?
_ Para dizer a verdade, ainda não. Tudo aqui é novo para mim... Só o fato de ter que aceitar, estarmos à centenas de km da Terra, já é um susto suficiente!
_ Sempre é assim com os novatos. Mas vamos, tenho muito que te mostrar por aqui. Você só conheceu uma parte da ala onde está acomodada, falta o resto...

Pegou a mão de Francis, colocou em volta de seu braço e gentilmente abriu a porta para que ela passasse primeiro.
Francis percebeu então uma salinha que antes parecia não estar ali. E perguntou meio sem jeito:
_ Engraçado, não me recordo de ter visto essa salinha ontem, quando acordei aqui.
_ Ela não estava ali ontem, Francis. Aqui tudo é mutável! Basta plasmar e tudo muda conforme seu pensamento... Eu plasmei esse pequeno aposento, para que seja a sua 'sala de retrospecto'.
_ E o que seria isso?
_ Uma sala onde pode, através de um aparelho, parecido com os computadores que se tem na Terra, visitar várias épocas de sua vida, lembrar das pessoas que passaram pela sua vida, os lugares que viveu ou viajou...
_ Hum, entendi, como se fosse uma máquina do tempo, em forma de telinha.
_ Mais ou menos isso... Olha, vou te levar para outros lugares, e depois se quiser visitar a sua salinha, pode vir.

Francis assentiu. O passeio foi bem proveitoso, porque pode conhecer além da ala que estava, as outras, também de seu interesse, como dos músicos, dos atores e atrizes de teatro, dos médicos e muito mais...
Parou em frente a um chafariz, na praça principal daquele gigantesco prédio, que aos olhos terrenos, parecia a de um grande shopping center. Reparou nas muitas borboletas coloridas que ali estavam, maravilhou-se com aquilo, por instantes ficou apenas observando seu voo...
Até que sentindo sede, perguntou ao seu mentor:
_ Pode-se beber dessa água?
_ Mas claro, Francis! Ela é totalmente potável, vem da nossa fonte natural, onde você viu as pessoas ontem.
Ela colocou as mãos em concha e ali bebeu da água límpida. Sentiu-se revigorada!
Parecia que aquela água tinha um efeito mágico...
Ele, lendo seu pensamento, disse:
_ Sim, pode-se dizer que tem magia nessa água.
_ Como adivinhou o que eu pensava?
_ Ah, Francis! Você ainda não notou que aqui não temos as limitações que o corpo material na Terra, tem? Podemos nos comunicar por telepatia também. Basta querer...
Ela limitou-se a balançar a cabeça afirmativamente, como se dissesse: 'Entendi'.
Ao término do passeio, Francis perguntou-lhe:
_ A tela na minha 'salinha de retrospecto', pode também mostrar o passado, antes da minha época,  mais explicitamente: minhas vidas anteriores?
_ Pode. Mas você deve estar preparada para tudo. Nem sempre o que se vê no passado distante, é agradável...
_ Eu sei bem disso. Se fosse diferente, não teríamos que voltar tantas vezes para a Terra, para nos redimirmos do que fizemos na outra vida.
_ Sabia que tínhamos feito uma boa escolha, trazendo você para cá. Mas não se esqueça: Aqui não é o céu, é uma  outra dimensão, paralela ao mundo terreno. Difícil de entender no início. Com o tempo, você vai saber diferenciar tudo.
_ Obrigada pela confiança. Mas sinto saudades das coisas de lá, das pessoas...
_ Isso também mudará. Porque o que tem a fazer aqui, é mais importante.
_ Bem, vamos ver... Até agora não sei o que uma escritora, poderia fazer para ajudar nesse lugar... Me sinto sem utilidade. 

O mentor lhe deu um abraço e disse:
_ Cada vez que se sentir assim, tome da água que fica na sua mesinha. Se sentirá bem melhor!
Ela agradeceu toda a gentileza dele para consigo, e abriu a porta da 'salinha do retropecto", estava preparada para dar uma boa olhada em tudo que tinha feito, desde os tempos mais remotos da Humanidade...

(continua)

Fátima Abreu

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