sábado, 30 de abril de 2016

Luzes de SATURNO- republicado

CONTO SURREAL

 


Luzes de Saturno 


Carmem Lúcia era amiga e vizinha de Maria, até suas vidas seguirem rumos distintos...
 Se conheceram desde os nove anos de idade: Só variavam em meses, pois Carmem era de dezembro de 1963 e  Maria, de maio de 1964.
Carmem era filha única, sua mãe enfermeira, pouco ficava em casa, pegava um plantão atrás do outro, para não deixar faltar nada em casa. Carmem crescia quase sozinha...
A não ser pela companhia de Maria e de sua família, que tomara como sua também.

Quando Carmem Lúcia estava com quinze anos, foi mãe pela primeira vez: Nascia Tayane.
Sem experiência pela pouca idade, e por não ter tido irmãos menores também para ajudar a criar, Carmem criava Tayane ao seu modo.
Mas, contava com ajuda sempre de Maria e de sua família.
Até quando a bebezinha se acidentava, era para casa de Maria, que Carmem corria com a menina; E isso aconteceu algumas vezes...
Carmem casou-se com o pai de sua filha e depois tiveram mais dois filhos: Victório e José Pedro.
Tempos depois se separou.

Maria, no decorrer do tempo, também casara-se cedo e tivera três filhos como Carmem.
Cada uma morando em local diferente, viam-se cada vez menos, mas não perdiam o contato. 
Entretanto,  com o passar dos anos moravam cada vez mais longe e viam-se raríssimas vezes.

Quando Tayane estava para casar, Carmem  telefonou para Maria, convidando-a para o "Chá de Panela" de sua filha. Maria de certo, confirmou presença: Afinal, Tayane era como se fosse mesmo uma sobrinha.

Chegou o dia marcado. Maria entrou na sala da casa que Carmem morava, que segundo ela, seria realizada a reunião das amigas de Tayane.
Ficou surpresa por não ter chegado ninguém além dela. Viu somente Carmem abrindo presentes, pacotes e caixas. Carmem disse então:
 _ Sente aí, Maria. Tayane já vem. Foi pegar as crianças no quintal.
_ Crianças?
_ Sim, meus novos filhos, não falei deles para você? De qualquer jeito, vai conhecê-los já...
Com meus filhos adultos, senti falta de crianças em casa. Resolvi adotar algumas.

Maria sentia que havia uma coisa estranha com sua amiga. Não sabia dizer o que seria.
Foi quando olhou que Carmem abria mais uma caixa, contendo dez xícaras de café,  mas, em vez de todas serem iguais, percebeu que a cada  duas xícaras, as estampas e formatos eram diferentes.
Notou também, que uma delas havia sido usada e apresentava restos de café no fundo.

" Nossa, que coisa estranha"! Pensou Maria. Nada comentou.
Resolveu que apenas observaria as coisas para depois entender  o que acontecia ali.

Tayane entrou na sala, com três crianças: Duas meninas loirinhas e um menino de cabelos bem escuros com franjinha. Carmem disse para os pequenos:
_ Cumprimentem a "tia Maria".
Eles obedeceram dizendo em coro e sorrindo: "Oi, tia Maria!"

Tayane percebendo o olhar curioso de Maria, chegou bem perto e disse-lhe quase murmurando:
_ Não sei como ela consegue adotar essas crianças. Que juiz daria a guarda para ela, sem ter condições financeiras de criar? Simplesmente elas aparecem "do nada "e minha mãe diz que adotou...
_ E os seus irmãos o que acham disso, não estranham?
_ Eles não entendem, mas não se manifestam. Cada um vive sua vida... Tia, a senhora sabe que eles trabalham em hospital como a vovó?
_ Não, de nada sabia, só que sua avó faleceu... Sua mãe quase não tem contato comigo. Ainda mais, morando em cidades diferentes. Tudo bem, de vez em quando nos falamos no celular, mas são coisas do cotidiano, na maioria das vezes sobre saúde. Nem  a minha, nem a dela é boa, você sabe, Tayane...  Tenho ela adicionada numa rede social, mas nem por lá, ela me manda um simples "oi"...
_ Pois é, muito estranho como da noite para o dia, as coisas mudam... E essas lindas crianças que aparecem aqui, sem nenhuma explicação, me deixa com certo medo... Será que minha mãe as sequestra?
_ Não acho que seja isso... Carmem nunca foi uma doida desse tipo. Talvez haja outra explicação.

Distraída, Carmem não prestava atenção na conversa de Maria e Tayane. Minutos depois, foi para a cozinha preparar um lanche para todos. Nada mais normal se ela não tivesse tirado a blusa e mostrado que estava sem o seios!
Maria ficara transtornada com aquilo! Tayane chamou as crianças para brincar com as caixas que estavam já abertas, para não olharem aquela cena. Quando Maria virou-se notou qua as caixas que as crianças brincavam, eram só de papelão, não tinham papel de presente por cima ou alguma fita, nem um só colorido para enfeitar...
Tudo estava desequilibrado ali.

Um homem entrando pela janela da cozinha, tirou Maria dos seus pensamentos. Assustou-se pensando se tratar de um ladrão.

Carmem disse então:
_ Não se assuste, Maria. Ele é meu novo namorado.

O homem balançou a cabeça negativamente e disse:
_ Saia daqui o mais rápido possível, senhora. Essa dona é doida!

Feito isso, pulou de volta, saindo da casa.

Maria estava cada vez mais assustada. Tentou olhar em volta, para pegar uma revista para ler, algo para distrair... Foi quando percebeu uma boneca de pano, ainda sem terminar, em uma prateleira.
Pegou -a e viu que não tinha olhos, boca, nariz, tampouco cabelos.

Carmem que colocava o lanche sobre a mesa da cozinha, viu que Maria segurava a boneca inacabada e disse tranquilamente:
_ Ah, vejo que já conheceu a Sofia. Ela é a minha nova bebezinha, vai parecer-se com o irmão.

Maria, olhou novamente para a boneca e quase deu um grito quando esta, foi criando vida e transformando-se numa linda bebezinha, cabelos negros e cacheados.



A menininha "recém nascida", sorria para Maria, ainda em suas mãos. Maria olhou incrédula para Carmem e esta lhe disse sem mostrar qualquer mudança:

_ "Vão-se os anéis, ficam os dedos"! Meus filhos naturais vão embora e crio outros. São meus Anéis de Saturno: Estão a minha volta.

Maria abriu os olhos e acordou.

Fátima Abreu

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Obs: Esse foi um sonho que tive dois dias atrás. Acordei com o título do conto na cabeça. Alguém do Astral deve ter inspirado esse sonho. Não sei o motivo, mas, desconfio que seja para estimular as adoções de crianças.
Mostrando o quanto uma mãe precisa de filhos ao redor, como Saturno, de seu anéis.






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