segunda-feira, 17 de agosto de 2015

O Assalto- REPUBLICADO



Um dos episódios da minha vida, que não está no conto 'PINGO DE GENTE', aqui no blog:
Foi uma dessas vezes que quase morri.

Era uma manhã de segunda feira, 25 de Fevereiro de 1991. Tinha 26/27 anos na época.
Tudo corria como sempre:
Eu abria a minha mercearia, limpava o balcão, arrumava aqui e ali...
Esperava meu marido trazer as compras do CEASA de Irajá e depois passar na padaria do bairro de Vista Alegre, para pegar os pães que ele sempre encomendava lá,  e que revendíamos na mercearia.

O carro era um Monza preto, novo, que acabáramos de pagar no mês anterior. Não tinha seguro, tampouco segredo. Uma coisa ruim e outra boa.

Bem, quando ele chegou estacionando o carro em frente à nossa loja, começou a retirar as mercadorias, começando pelos pães.
Depois que colocou as  duas cestas sobre o balcão, voltou ao carro e pegou mais alguma coisa, quando foi abordado por um homem perguntando se vendíamos caixinhas de fósforos para acender seu cigarro.
Quando fui atendê-lo, ele já encostou no balcão e retirou a arma que estava escondida na bermuda, apontando-a diretamente para minha cabeça.

Declarando assim o assalto para meu marido:
 "Se quer deixar a moça aqui viva, me dá as chaves do Monza. Vou levar tudo que está dentro e também pega aí o dinheiro de caixa que sei que tem guardado."

Meu marido pediu calma e entregou as chaves dizendo:
" Pode levar tudo, mas não faça mal para ela".

Ele respondeu friamente:
" Tô vendo que se preocupa com ela, mas olha, tô querendo levar a moça também. Se seu carro tiver segredo, mato a moça aqui, volto, e mato você também."

Nesse instante que ele disse isso, fiquei estática:
Não mexia um músculo, não tremia, apenas fiquei catatônica. Acho que um anjo de Deus me manteve assim.
A única coisa que lembro até eu voltar ao normal, foi o meu pensamento imediato:
" Nunca mais vou ver meus filhos"...

Meu marido argumentou:
" Pode ir, cara. Não tem segredo nenhum. Deixa a moça aqui, não tem necessidade de levá-la."

Ele olhou em volta, pegou mais algumas coisas que queria, sempre apontando a  arma para minha cabeça.
Depois, disse por fim:

" Tudo bem, a moça fica. Mas, se tiver segredo, já sabe, volto e acabo com vocês aqui."

Ele levou ainda o aparelho de som e a TV de 14 " que ficavam na nossa lanchonete anexa à mercearia.
Foi embora com um comparsa que estava em um poste pertinho da esquina. Exatamente um ano depois, em fevereiro, ele voltou. Veio com outro carro, mas sarcasticamente disse:

" Teu Monza tá rodando por aí com os caras, fazendo ganho... Voltei e quero a féria do dia, e vou encher o carro com mercadoria também. "

Depois disso, e temendo pelos meus filhos que sendo crianças ainda, brincavam perto do nosso negócio, resolvemos fechar pela primeira vez.
Três anos mais tarde, reabrimos, mas...
Novamente tempos depois, tivemos que fechar e dessa vez foi definitivamente.
Bem, essa é outra história...

Fátima Abreu

3 comentários:

  1. Triste ter que passar por tal situação. E até hoje nada mudou em relação a essa prática. Que mundo é esse!!!
    Parabéns pela narrativa, Fatima! Você escreve muito bem... Deu para vivenciar toda a cena ;)

    ResponderExcluir
  2. Relato bem feito de uma situação infelizmente corriqueira.
    Parabéns pelo relato amiga!
    Impressiona a falta de segurança com que lidamos!

    ResponderExcluir
  3. OBRIGADA PELAS VISITAS, AMIGAS. <3 VOLTEM SEMPRE!

    ResponderExcluir